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Encontrei pela primeira vez o mestre de Kenpo Karate Ed Parker em 1952, numa academia em Beverly Hills, onde ele alugava um espaço. Havaiano de belo porte, 1.80 de alura, com um tufo espesso de cabelos negros, Parker lembrava-me uma arvore imensa, com braços fortes como galhos e pés nus enraizados no tatame (apesar do seu tamanho se movimentava como um furacão). Usava um Kimono gasto, convenientemente largo. Como sua faixa preta, o Kimono estava esbranquiçado em alguns pontos, devido as lutas e as muitas vezes que fora lavado.
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Seu rosto era sereno e pacífico como se estivesse terminando uma meditação. Lembro-me bem de minhas seções iniciais em seu Dojo de los Angeles, onde eu praticava Kumite com um adversário mais habilitado. Para compensar minha falta de conhecimento e experiência, eu tentava movimentos enganosos, astuciosos, que eram prontamente rebatidos. Fui dominado e Parker me viu ser duramente batido. Quando a luta terminou eu estava arrasado. Parker chamou-me em seu escritório, numa sala pequena, escassamente mobiliada, com apenas uma escrivaninha riscada e cadeiras desconjuntadas.
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-Por que você está tão desanimado?
-Por que não consegui marcar nenhum ponto.
Parker ergueu-se por detrás da escrivaninha e, tomando um pedaço de giz, traçou no chão uma linha de cerca de 1.5 m de comprimento e perguntou-me:
-Como você pode diminuir essa linha?
Observei a linha e dei-lhe várias respostas, incluindo a de cortar a linha em vários pedaços. Ele sacudiu a cabeça e traçou uma segunda linha, mais cumprida que a primeira.
-Como lhe parece agora a primeira linha?
-Mais curta – respondi.
Parker assentiu:
-É melhor aperfeiçoar e reforças sua própria linha ou conhecimento do que tentar cortar a linha do adversário.
Acompanhou-me até a porta e acrescentou:
-Pense no que eu acabei de lhe dizer.
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Pensei e esforcei-me com empenho nos meses seguintes, desenvolvendo meu conhecimento e habilidade. Da próxima vez que fui ao tatame enfrentar o mesmo oponente, este também se aperfeiçoara mais. Eu porém, me saí bem melhor do que antes, porque aumentara o nível de meu conhecimento assim como desenvolvera minhas habilidades.
Quase trinta anos se passaram desde essa época; entrementes, Parker ensinou sua arte a milhares de alunos. Mesmo muito distantes do tempo de treinamento, todos pensam nele como um bom amigo – como um sábio e gentil mestre que incorpora o espírito e a filosofia das artes marciais.
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Joe Hyams