Sempre fui fascinado pelo Kenpo e pelo Jeet Kune Do.
A ideia de parar um atacante através de uma sucessão rápida e fluída de golpes em pontos vitais sempre fez sentido para mim. Também faz sentido que eu goste de ambos, kenpo e Jeet Kune Do, pois os dois compartilham muitas ideias e conceitos.
Mas por que eles são tão semelhantes? Bem, ambos foram criados por homens cujos pensamentos e entendimentos das artes marciais estavam sendo influenciados pelas mesmas ideias e pelas mesmas pessoas. Ambos queriam melhorar o que consideravam um estilo de defesa desatualizado.
Eles se encontravam regularmente, trocavam informações e até mesmo dividiram a mesma casa em certo ponto (Bruce Lee passou quatro meses na casa de Parker em Pasadena durante o IKC de 1964). Então, pensar que talvez eles experimentaram e trocaram ideias e aprenderam um com o outro não é nada absurdo.
Vamos analisar o que sabemos sobre os dois homens. Tanto Ed quanto Bruce tinham uma quantidade enorme de informações e técnicas para compartilhar um com o outro, pois ambos absorveram o máximo que podiam do maior número de pessoas em diferentes estilos de artes marciais.
O início da jornada dos dois homens nas artes marciais
Parker começou seu treinamento em artes marciais no judô aos doze anos de idade e recebeu sua faixa preta nesse estilo aos dezoito anos em 1949. Ele também treinou boxe ocidental antes de começar a treinar kenpo e mais tarde recebeu faixas pretas em jiu-jitsu e Karate.
Depois de receber sua faixa preta em Kenpo, Ed Parker mudou-se para Califórnia e passou a conviver com alguns dos melhores artistas marciais da época, compartilhando informações e aprendendo uns com os outros. Ed estava envolvido com Ark Wong (patriarca do kung Fu nos EUA), Haumea Lefiti ((Lohan Chuan), Jimmy H. Woo (San Soo) e Lau Bun (Choy Li Fut). Esses artistas marciais estavam entre os melhores dos seus estilos.
Através do seu mestre sino-havaiano (William Chow) e pelo convívio com essas pessoas, nasceu o interesse de Parker pelos estilos chineses que influenciaram a construção do seu Kenpo. Ed mais tarde desenvolveu um sistema que chamou de American Kenpo, na mesma época em que Bruce Lee estava trabalhando no seu Jeet Kune Do.
Bruce Lee iniciou no Wing Chun quando tinha 16 anos e mais tarde treinou com seu irmão Edward, que era o treinador do programa de boxe na escola St. Francis Xavier em Hong Kong. Em 1958, Bruce acabou vencendo um torneio escolar de boxe, eliminando o campeão anterior. Bruce também treinou com seu outro irmão Peter, que foi campeão de esgrima no La Salle College, também em Hong Kong.
Uma vez nos Estados Unidos, Bruce conheceu o artista marcial chinês James Yimm Lee, que acabou apresentando Bruce a Ed Parker. Bruce também treinou um pouco com o mestre de taekwondo Jhoon Goo Rhee (trocando informações sobre movimentos e técnicas). Bruce reuniu todo o seu conhecimento e criou o Jeet Kune Do na mesma época em que o American Kenpo estava sendo criado.
Dois grandes se encontram
Entre 1963 ou 1964 Parker e Bruce se conheceram e se tornaram amigos instantaneamente. Parker ajudou Bruce a ganhar atenção nacional, apresentando-o ao mundo das artes marciais no International Karate Championships (IKC) de Long Beach, onde Bruce demonstrou seu lendário soco de uma polegada.
Este também foi o lugar onde Bruce Lee foi descoberto por Hollywood, o que o levou ao papel de kato e o ajudou a se tornar uma super estrela das artes marciais. Ed Parker também sugeriu que Bruce conversasse e aprendesse com todas as principais pessoas dos diferentes estilos com os quais ele estava se comunicando na época e apresentou Bruce aos líderes de muitas artes marciais.
Evolução na compreensão das artes marciais.
Como um exemplo de Bruce mudando suas crenças, houve uma época em ele estava muito confiante em golpear utilizando a junta do meio de um dos dedos, projetado bem apertado acima dos outros. Bruce era um grande fã desse soco até que um dia se feriu seriamente ao utiliza-lo.
Depois disso, virou um crítico feroz na utilização deste golpe. Bruce estava agora completamente contra as formas clássicas e as substituiu por formas mais flexíveis. Era mais um tipo de movimento de autoexpressão e Ed parker estava aderiando a estes conceitos, de maneira independente, na mesma época.
Parker estava se movendo mais em direção aos movimentos chineses, mas fugindo de suas formas óbvias como o Hung Gar.
Conceito de forma sem forma
Quase todo mundo envolvido nas artes marciais conhece as famosas crenças de Bruce Lee sobre ser contra as formas. O que a maioria não entende é que ele não era totalmente contra as formas. Ele mesmo praticava formas de vários estilos.
Bruce Lee percebeu que não poderia ensinar um estilo sem forma diretamente para iniciantes nas artes marciais. A pessoa tinha que primeiro dominar a forma de algum estilo e somente a partir desse ponto o aluno poderia começar a experimentar o abandono da forma.
Ed Parker chegou às mesmas conclusões com o Kenpo e conduziu seu sistema de ensino nesta direção. Este estilo de forma sem forma não poderia ser ensinado desde o início a um novo aluno e ele entendeu que a maioria de seus alunos rejeitaria o conceito de mudar para este novo estilo de kenpo. Parker olhou para a sua arte como um caminho para alcançar esta “forma sem forma”.
Se você olhar para os planos de Parker para o Kenpo, envolvendo o conceito da teia de conhecimento, verá que são muito similares aos movimentos e ataques fluidos livres baseados na situação do momento do Jeet Kune Do: uma forma sem forma.
Então, eles são artes irmãs?
O que sabemos é que esses dois estilos foram criados quase ao mesmo tempo por duas pessoas com um histórico muito semelhante, já que ambas treinaram vários estilos diferentes. Nós sabemos que eles estavam trocando informações e aprendendo com o mesmo grupo de outro artistas marciais para obter conhecimento.
Sabemos que muitas vezes Ed Parker e Bruce Lee conversaram sobre suas ideias, trocaram informações, aprendeream, experimentaram e colocaram a prova seus conhecimentos marciais.
Creio que negar a forma que ambos se influenciaram seja negar o obvio. Ambos criaram o que acreditavam ser o melhor estilo que poderiam trazer a tona a partir de seus conhecimentos.
Por fim sabemos que no mesmo período de tempo os dois homens chegaram à mesma crença de que, para ser o melhor, era preciso praticar uma forma sem forma.